domingo, 6 de junho de 2021

A dança: expressão corporal e cultural


Dançar é um ritual de beleza.

Quando a música libera a alma,

mente e corpo flutuam

em movimentos 

que parecem reverências.

Na dança de olhares, 

em ardentes cadências

corpos estremecem.

E a arte em ritmo de poesia,

como uma segunda pele,

estica, aperta, molda, reveste;

os braços que enlevam 

revelam no passo final, 

sem ruptura, 

de dois apenas um,

como uma bela escultura.


II

Um ritual pré-histórico, 

sem recursos ou instrumentos sonoros,

corpos em movimento, não por indução

de uma melodiosa canção,

mas pela imaginação ou sensação causadas 

pelas batidas dos pés, das mãos e do coração;

do corpo, apenas braços e pernas como extensão,

para, através deles, expressar tudo o que

a linguagem insuficiente e rudimentar

não conseguia do significado alcançar.

Surgiram, assim, neste esforço 

de se fazer entender, como num teatro amador,

as primeiras pantomimas da comunicação.

São registros desenhados nos entalhes

simplórios, mas muito ricos em detalhes

gravados, encravados como quadros nas paredes

das cavernas dos nossos ancestrais,

para que, em outras eras, fossem as memórias

dos gestos, movimentos e expressões faciais; 

os traços de uma civilização: suas histórias.


III

Pagã, mitológica, religiosa, mística, gnóstica...

Foram surgindo ao longo do tempo 

diversidades de culturas criadas pelos povos,

para atrair saúde, sabedoria, alimento...

Ao chefe das tribos cabia

zelar pelo povo, cultivando a alegria;

e quão bela era a nação reunida,

enfeitada com adornos e pinturas,

na execução da arte também pela vida.

Em cultos de adoração, fé e medo,

astros-deuses como o sol e a lua

detinham da dança sagrada o segredo

de fazer chover e do mal proteger,

gerando homens fortes para a guerra vencer.

Dos céus vieram também outros deuses,

que a mitologia estendeu para a terra e o mar

Criando outras artes tão belas, embora nenhuma delas

superasse a arte de dançar;

tanto que até a bíblia discorre sobre um 

jovem galileu, que dançava alegremente

numa festa, nas bodas de um amigo seu.


IV

E como a dança, a arte avança. Em pares ou em rodas

encadeadas como um grande balé ainda em originalidade.

Do teatro aos salões, a nobre coreografia, ao som de

O Lago dos Cisnes e O Quebra Nozes, de Tchaikovsky, 

os braços se abraçam e os pés, em ritmo constante,

deslizam na metalinguagem do baile em suaves voltas.

A valsa oficia a primeira dança da jovem debutante

e sacramenta no casamento o elo que simboliza a união.

Por isso, é sempre contemporânea, simultânea, eterna.

Fenômeno social sempre em evolução,

é o ritmo da música que dá força e expressão

à coreografia, do grego koreos (dança) e grafia (escrita),

que faz o dançarino delinear o espaço com o corpo

e, à sua maneira, comunicar-se com o som.

Sentir, escutar, deixar-se levar pelas sensações, emoções...

Dançando, imitando, revelando fatos em atos,

representando em cada dança uma prática cultural.

E nesta fusão da arte com o homem, 

abstrato e concreto, num jogo personificado,

completam-se na suave beleza do bailado.

Raquel Santos


 

Um comentário:

  1. Que lindo poetisa Raquel.
    Ja tinha visto na revista, mas é sempre bom reler voce.
    Abraços afetuosos.

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